Avaliação da exposição de populações tradicionais ao mercúrio (metilmercúrio): subsídios às políticas públicas de saúde na Amazônia Ocidental
Os estudos sobre desenvolvimento motor podem permitir implementar e validar métodos sensíveis e acessíveis para identificação de atrasos nos domínios cognitivos, motores, antropométricos e visuais das crianças em idade escolar. Desta forma, este estudo transversal busca investigar e compreender as vias de exposição ambiental ao Hg, na sua forma química MeHg, e identificar os potenciais impactos desta exposição sobre a saúde das populações tradicionais da Amazônia comparando 2 bacias hidrográficas (Baixo Rio Madeira e Alto Rio Solimões). Tem por finalidade a aplicação de seus resultados na formulação de instrumentos de promoção e prevenção à saúde das populações tradicionais da Amazônia, subsidiando o Sistema Único de Saúde (SUS) nas ações e potenciais notificações ao programa de saúde da família (PSF).
A neuro toxicida de do metilmercúrio (MeHg) é bem estabelecida tanto em humanos como em animais. O sistema nervoso central imaturo é extremamente sensível à neuro-toxicidade do MeHg e, o cérebro fetal pode ser afetado mesmo que a mãe não apresente sinais de toxicidade. Neste sentido, as crianças são consideradas especialmente vulneráveis ao MeHg em todas as fases do desenvolvimento, sendo maior risco durante o desenvolvimento pré-natal. Na Amazônia o peixe se constitui como o principal pool biótico de MeHg, portanto, a principal fonte de exposição humana nesta região, principalmente ribeirinhos e indígenas, especialmente os mais isolados, uma vez que estas populações estão entre as maiores consumidoras de peixes do mundo. Levantamentos na Amazônia sobre a temática datam desde meados dos anos de 1980 apresentando elevadas concentrações de Hg em ribeirinhos, entretanto pouco se avançou em monitoramento regulares nas ações preventivas de saúde, especialmente no treinamento de profissionais da saúde.
A designinação Missão Dórea, é uma homenagem póstuma ao Prof. Dr. José Garrofe Dórea (1944-2023).
José Garrofe Dórea
O Prof. José Garrofe Dórea foi graduado pela U. F. Rural de PE (1968) e pós-graduado pela Univ. of Massachusetts (USA) com MSc (1971) e PhD (1975) concentrado em 'Nutritional Biochemistry'. Prof. Titular (aposentado em 2014) e Professor Emérito - Universidade de Brasília (2014); com atividade docente na Univ. of Hawaii (USA - 1988) e UNICAMP (1989). Pesquisa em Nutrição (Metabolismo Mineral - Zn, Ca, P, Cu, Se, Fe, I) e Ecotoxicologia (metais tóxicos - Hg, Pb, Sb; organoclorados - DDT, DDE; e interferentes endócrinos) nos seguintes temas: leite humano, biomarcadores, poluentes endócrino-ativos, toxicologia do mercúrio, saúde de populações (urbanas e ribeirinhos da Amazonia).
Atuou no Corpo Editorial de revistas científicas internacionais indexadas: Environmental Research (Associate Editor); Journal of Traditional and Complementary Medicine (Associate Editor);Environment International, International Journal of Environmental Research and Public Health (Academic Editor); Heliyon Environmental; Environmental Health and Toxicology; International Journal of Molecular Epidemiology and Genetics; Scientifica; Genoconserve; The Science of Total Environment. Co-editor "Special Issues" no 'Journal of Biomedicine and Biotechnology' (2012- Mercury Toxicity) e 'Environmental Research' (2015-Human health and the implementation of Minamata Convention); revisor de artigos científicos para mais de 100 periódicos.
Foi consultor de assuntos científicos para agencias nacionais e internacionais (destacando a IAEA-International Atomic Energy Agency, de 2009 a 2013); membro do "Council for Nutritional and Environmental Medicine (Noruega)"; membro da Comissao Assessora da presidencia da CAPES (2018-presente).Classificado na lista mundial do "Expertscape" entre os 5 mais expressivos nos topicos de "mercury", "ethylmercury", e "Thimerosal" (novembro/2020), merecendo destaque tambem em "methylmercury".
Foto: Prof. Wanderley Bastos, Profa. Leidiane Lauthartte, Prof. José Dórea, Prof. Olaf Malm e Prof. Angelo Manzatto. Autor: LBGQ-WCP
A Missão: Comunidade - Saúde - Meio Ambiente
Equipe iniciando as atividades coordeando pelo Prof. Dr. Ronaldo Almeida. Autor: LBGQ-WCP
A Missão Dórea, ocorreu no período de 18 a 25 de fevereiro de 2024, foi viabilizada no âmbito do projeto de pesquisa Avaliação da exposição de populações tradicionais ao mercúrio (metilmercúrio): Subsídios às políticas públicas de saúde na Amazônia Ocidental.
O Projeto que atualmente está em execução realizou a 1a. Expedição para obtenção de dados no Baixo Madeira, teve a participação fundamental do Prof. Dórea na construção da proposta do projeto, inclusive fazendo a conecção de nosso Grupo de Pesquisa LBGQA-WCP com o Grupo de Pesquisa de Toxicologia da UFRGS LATOX, coordenado pela Profa. Dra. Solange Garcia.
O transporte de toda equipe e dos equipamentos foi realizado pela embarcação Maresia III que foi adequada algumas semanas antes da expedição com freezers e geladeiras específicos para o armazenamento das amostras a serem coletadas, assim como com outros equipamentos para a viabilização das atividades (centrífugas, transformadores de energia, dentre outros). As atividades foram desenvolvidas com equipes sincronizadas na aplicação de questionários, coleta de amostras e aplicação de testes físicos.
O ano de 2023 foi dedicado à construção dos questionários e termos de consentimento (TCLE e TALE) e termos de assentimento institucionais (TAI), pertinentes as faixas etárias selecionadas para participarem do projeto, e a submissão e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da UNIR (CEP-UNIR). O nosso Certificado de Apresentação e Apreciação Ética (CAAE) recebeu o número 67704023.9.0000.5300 e foi aprovado em agosto/2023, sob o Parecer No. 5.984.260.
Foto: Barco Maresia III no distrito de Nazaré, Porto Velho - RO.Autor: LBGQ-WCP
Foto: Prof. Wanderley Bastos e equipe em reunião preparatória. Autor: LBGQ-WCP
A equipe responsável pelo questionário realizou perguntas simples e objetivas com um questionário de três páginas, mas com perguntas relevantes para conhecer um pouco sobre o histórico do participante e seus hábitos alimentares. Nele constava perguntas pessoais, estado civil, histórico de doenças, se os participantes recebiam auxílio do governo, se já trabalharam em garimpo de ouro e informações adicionais como peso, altura e pressão arterial.
Além disso, havia perguntas ainda mais específicas com relação aos hábitos alimentares, se o consumo de peixe aumentou ou reduziu com o passar dos anos e qual a justificava na opinião deles, se o peixe é um alimento que apresenta riscos para saúde ou não, quantas vezes por semana se alimentavam desta proteína, quais os tipos e a proveniência do peixe.
Perguntas sobre alimentação foram pertinentes, além do consumo em relação ao peixe, também havia perguntas se consumiam enlatados ou processados, frutas e verduras, e qual a frequência que consomem. Nessa linha em obter a informação quantitativa no consumo de pescado foram distribuídas algumas balanças com um caderno de anotações para àqueles que concordaram em anotar e pesar as espécies consumidas durante alguns meses.
Atendimento Médico
Na atividade de avaliação médica foram diagnosticados casos de doenças autoimune (psoríase), hipertensão, obesidade, dores abdominais e lombalgias, entre outros conforme exemplos da figura abaixo. A Dra. Polyana e o Dr. João discutiram sobre apresentação clínica no caso de intoxicação por metilmercúrio e os procedimentos e protocolos a serem aplicados.
Foto: Casos avaliados na comunidade. Autor: LBGQ-WCP
Atividades nos Distritos de Calama - Nazaré - São Carlos
Vídeos Informativos
O Prof. Dr. Wanderley Bastos fala das atividades desenvolvidas na Missão Dórea.